Nascer num corpo errado?
Já se imaginou nascer num corpo e sentir que esse não lhe pertence?
Caso não tenha pensado nesse assunto, gostaria que, antes de iniciar esta leitura o fizesse por breves segundos.
Como se sentiu?
Agora, poderá imaginar como se sentem as pessoas que nascem num corpo e não se identificam com o mesmo.
Ao longo da nossa vida passamos por momentos em que não gostamos da nossa aparência, ou gostaríamos de melhorar algo em nós. E o que fazemos? Lutamos por isso. Fazemos dietas, vamos ao ginásio, fazemos pequenas correções cirúrgicas, ou algo mais estético.
Fazemo-lo por saber que vai melhorar a nossa autoestima e para satisfazer uma necessidade que é própria de cada pessoa.
E está correto! Temos essa liberdade e não seremos ou não deveremos ser julgados por tal. Porque cada pessoa tem a sua necessidade e lida com ela da forma que mais ninguém lida. Por muita empatia que exista perante o outro, é impossível quantificar a dor que algo lhe causa. Por isso a importância do não julgamento e da aceitação. Deveremos aceitar o outro tal e qual como ele é ou, como o outro gostaria de ser aceite, independentemente das nossas crenças ou valores.
Os exemplos e exercícios feitos até agora, serviram para que agora possa introduzir a Transexualidade. Antes de explicar o que é a transexualidade é necessário explicar três conceitos fundamentais para que fique mais fácil a perceção do conteúdo.
Em primeiro lugar entenda que:
-Sexo biológico são características de anatomia e funcionamento do nosso organismo, ou seja, pela genética uma pessoa pode ser XX e ter uma vagina ou pode ser XY e ter um pénis.
-Identidade de género: é a identidade ou o sentimento de uma pessoa de pertencer a um determinado género masculino, feminino a ambos ou a nenhu
-Orientação sexual: é por quem ou por qual o género masculino ou feminino a pessoa se atrai, sente algum afeto ou sente desejo de se relacionar.
Quando nascemos, é-nos atribuído um género de homem ou mulher, neste sentido, são os nossos documentos que vão ditar o nosso funcionamento na sociedade.
O género é atribuído baseado no nosso sexo biológico ou nos nosso genitais.
Quando a pessoa se identifica com o género que lhe foi atribuído no nascimento designa-se Cisgénero, o que representa a maioria da população. Ou seja, o homem que se identifica com o género masculino e a mulher que se identifica com o género feminino.
E quando esta identificação não acontece?
Uma pessoa que não se identifica com o género que lhe foi atribuído ou designado no nascimento, e que possui características de um corpo masculino e que não se identifica com o seu corpo, mas sim, entende e identifica-se como pertencente ao grupo das mulheres, ou sendo uma mulher, mas com o corpo biologicamente masculino.
O mesmo serve para uma pessoa que nasceu com características do corpo feminino, mas identifica-se com o género masculino, ou seja, identifica-se, portanto, como um homem. Assim, na sociedade é definida a Transexualidade.
E note que, a definição de transexualidade não tem rigorosamente nada a ver com a definição de orientação sexual que vai definir se a pessoa é:
Heterossexual – pessoas que sentem atração por pessoas do género oposto ou Homossexual – pessoas que sentem atração por pessoas do mesmo género.
Para tornar um pouco mais claro, existem transexuais, heterossexuais, gays, lésbicas, bissexuais e assexuais.
Tendo estes conceitos bem definidos, um segundo ponto que deve ser esclarecido, é o que muitas pessoas comentam, como: “isso são modernices, no meu tempo não havia nada disso”. O que não havia nesse tempo era informação, acesso fácil a noticias de todo o mundo, à distância de um clique.
A Transsexualidade sempre existiu, e é comprovada com relatos desde a época grega, passando pelo império Romano até à idade média e assim permanece até hoje.
A grande diferença como mencionado anteriormente, é que atualmente as pessoas estão muito mais abertas e o assunto está muita mais em clareza.
Com que idade se descobre a Transexualidade?
A Transexualidade é identificada em qualquer fase da vida, mas geralmente acontece na infância e na adolescência.
Aos 4, 5 anos de idade começamos a ter a noção de pertença a um determinado género de acordo com nosso neuro-desenvolvimento baseado no nosso mundo e no que nos rodeia, no que observamos nos outros.
Chamada de atenção aos Pais!
É muito comum que os pais ou os cuidadores responsáveis pela criança fiquem muito assustados e sem saber o que fazer ao assistir aos comportamentos opostos ao que seria esperado daquele menino ou menina. É para isso que gostaria de chamar a sua atenção.
Ter comportamentos opostos ao que a sociedade espera de um menino ou de uma menina, não faz dela transexual, assim como o menino gostar de brincar com bonecas e a menina gostar de brincar com carros, assim como, as cores rosa para menina e azul para menino. Entenda que, somos nós sociedade quem definimos estas ideologias, e que não significa que estejam certas. Por isso, não se deixe levar por aquilo que a sociedade espera de nós. Até porque, a cor azul nem sempre foi para menino como a cor rosa não era para menina. Mas isso irei explicar em outro texto, no meu blogue.
Os comportamentos mencionados, não devem rotular a criança, até porque, esses comportamentos não significam que a criança seja transexual, e por isso é necessário aguardar o seu desenvolvimento para entender se é uma fase ou se isso se vai manter ao longo da vida ou se esses comportamentos estão a trazer algum prejuízo para a vida da criança.
É adolescência, é o período onde ocorre mais transformações corporais juntamente com a puberdade. Os adolescentes transexuais, podem apresentar sentimentos de angústia, depressão, tristeza ou até raiva por terem um corpo que não se está a desenvolver de acordo com a sua identidade de género.
O importante é, na presença de situações anteriormente descritas, procurar apoio nos serviços de saúde ou profissionais especializados.
Por fim, a transexualidade não pode ser nem dever ser entendida como uma doença, mas sim como uma particularidade no campo da saúde, que exige atenção especializada para algumas vulnerabilidades como por exemplo a depressão, a ansiedade.
Não existe cura, pois como referido anteriormente, a transsexualidade não é uma doença. A forma mais adequada que a medicina tem para ajudar as pessoas transsexuais é através do acolhimento e orientação. Tomando posteriormente as medidas utilizadas na atualidade para a terapia hormonal e para os procedimentos cirúrgicos. Este procedimento tem como intenção a adequação da pessoa à sua entidade de género, melhorando a sua qualidade de vida.
No ponto de vista social, o que é possível, é orientar a pessoa a respeito das alterações nos documentos e registos públicos, como mudar de nome e género.
É essencial o apoio familiar, o apoio de amigos, equipa médica e psicólogos na adaptação social da pessoa transsexual.
Por fim, e não menos importante, a mensagem que pretendo passar:
Dê amor sem esperar amor em troca, dê carinho sem esperar carinho em troca, dê colo sem esperar colo em troca, dê compressão sem esperar ser compreendido. Porque se todos pensarmos que só devemos dar quando recebermos, então ninguém dará nada a ninguém. E todos ficaremos à espera do NADA!